O quadro representado na imagem intitula-se “O Cruzeiro do Sul”. É uma tela de 1000 x 1000 mm, técnica mista: pintura a acrílico e colagem.
Foi o último de um conjunto de trabalhos realizados em 2009/2010 que têm um tema de referência comum: O Círculo e Movimentos Circulares e que constituem a maioria das pinturas apresentadas nesta mostra.
Nele se pretendeu espelhar a referida constelação como um símbolo de Astronomia e ao mesmo tempo homenagear os navegadores portugueses e Luís de Camões, que, cantando os seus feitos lhes atribuiu a descoberta de “novos mundos, novas terras e novos céus”.
Partindo da estrofe 14 do Canto V de Os Lusíadas, dedicada a “O Cruzeiro do Sul”, procurei criar uma atmosfera nocturna e cósmica em termos pictóricos, em que essa constelação fosse o motivo central da pintura. Sendo constituída por quatro estrelas em forma de cruz e ainda de uma quinta, apelidada de Intrometida, aparece contemplada na forma de uma Cruz de Cristo, porque era este o símbolo usado como pavilhão naval português ao tempo do reinado de D. Manuel I . Na procura de um universo mágico envolvi ainda a constelação e a Cruz de Cristo numa esfera de luz, relacionando-o com as esferas celestes de Ptolomeu e o episódio da Máquina do Mundo.
O motivo inspirador desta série de trabalhos está num quadro de Kandinsky “ Alguns Círculos ”, uma pintura datada de 1926, óleo sobre tela de 1403 x 1407 mm que pude apreciar no Centro Pompidou em Paris, em Julho de 2009, quando ali foram exibidas uma centena de telas de grande formato realizadas pelo grande pintor russo entre 1907 e 1942.
Por contraposição às formas geométricas diversas e planas que povoaram o seu maravilhoso imaginário e habitam as suas telas, procurei explorar a noção de volume, cor e luz em composições que, adoptando como tema base “O Círculo e Movimentos Circulares” e utilizando diferentes técnicas pictóricas, pretenderam assumir e respirar um ambiente predominantemente cósmico.
A escolha do tema neste contexto foi influenciada também pelo facto de o ano de 2009 ter sido declarado pela Organização das Nações Unidas o Ano Internacional da Astronomia. Várias iniciativas do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (palestra “Hoje Nasceu Galileu” pelo Prof. João Fernandes, Comissário para o Ano Internacional de Astronomia; curso de formação “O Caso Galileu: Os factos, os Documentos, a Polémica” leccionado pelo Prof. Henrique Leitão; ciclo de conferências “Camões, o Céu e a Terra”) estiveram na origem das motivações que me conduziram à experimentação, à execução e à sequência de grande parte destes trabalhos pictóricos.
O “Cruzeiro do Sul”, cujo nome oficial actual é simplesmente Crux, é uma constelação, a menor de todas as 88 existentes na esfera celeste (assim definidas oficialmente em 1930 pela União Astronómica Internacional) situa-se no Hemisfério Sul, é a mais conhecida nos países ao sul da linha do Equador e também a que fica mais próxima e indica a orientação do Pólo Sul Celeste.
A primeira referência documentada às suas estrelas encontra-se registada numa carta datada de 1 de Maio de 1500, enviada ao rei D. Manuel por Mestre João de Faras, o Astrónomo Oficial do Rei na Armada de Pedro Álvares Cabral. Terá sido avistada pela primeira vez pelos portugueses e é assim que é cantada por Camões.
A estrela mais luminosa é a que fica no ponto inferior do braço maior da cruz, tem o nome de “Magalhães” e aponta a direcção do Polo Sul.
Carolina Máxima
http://carolinamaxima.blogspot.pt/
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