domingo, 18 de novembro de 2018

A Saga de Selma Lagerlöf Romance Biográfico - Cristina Carvalho


    Sim, sou homossexual. Mas então, se não fosse era o quê? Assexuada? Um ser vegetal? Não! Isso não seria possível em mim, ainda para mais sendo escritora. O estremecimento que tive em Estocolmo, pelos meus catorze anos, quando estive aqueles meses todos para tratamento da perna em casa do tio Azfelius, aquele encontro angélico e inesquecível com o príncipe estudante de Uppsala, foi a minha primeira e fantasista experiência amorosa. Eu sabia que não era assexuada. Mas os homens, na minha vida e a começar pelo meu pai, foram sempre personagens irreais. Porquê? Não sei! Não faço ideia. Não preciso de saber. Amei profunda e sinceramente Sophie Elkan e Valborg Olander. E quem não perceber isto não perceberá nunca nada sobre o ser humano. Na continuidade das observações da minha vida percebo as enormes diferenças psicológicas e comportamentais entre uma mulher e um homem. Não estou a referir a educação desde a infância que essa, é muito diferente. E ainda assim, as mulheres mantém-se numa atitude ambígua até muito tarde. Eu diria, toda a vida.
    Dei muitas palestras sobre este tema, a feminilidade e sexualidade,em Landskröna no meu círculo feminista. Conto falar também aqui em Falun. Espero que Valborg me acompanhe.
    A homossexualidade na Suécia, ao contrário de outros países na Europa foi sempre reprimida, não consentida até 1944, quatro anos depois da minha morte. Naturalmente, ninguém se expunha publicamente em atitudes mais ou menos reveladoras. O tempo era outro, os hábitos diferentes. No meu caso, cada uma de nós vivia no seu canto e, claro, encontrávamo-nos em locais públicos e também em nossas casas quando se proporcionava.
    Por esta razão, as mais de três mil cartas trocadas entre mim e Sophie foram guardadas, por expressa e escrita ordem minha, na Real Biblioteca de Estocolmo, com a indicação de que só poderiam ser conhecidas do público cinquenta anos após a minha morte.
    "Ensinaste-me a ser livre" ou a dedicatória para Sophie no livro Jerusalém - "companheira da vida e das letras" foram duas frases que revelaram, publicamente, esta relação de mais de vinte e sete anos, até à morte de Sophie.
    Eu amei duas mulheres, aliás, amei três assuntos femininos, Mårbacka, Sophie e Valborg. Dei-lhes todos os meus melhores sentimentos, sofri e alegrei-me com elas. E o meu sentir apaixonado foi sempre o que tive de melhor na minha vida. Quero lá saber o que pensam de mim! Eu quis amar, dar o meu sangue interior. O meu pai percebeu-me sempre muito bem. Ele sabia e sentia tudo o que está no interior das florestas.
    Eu fui uma floresta.
    Cristina Carvalho em "A SAGA DE SELMA LAGERLÖF" , págs 136 e 137.
    Uma edição de Relógio D'Água ( Outubro 2018)
    À venda em todas as livrarias
    Selma Lagerlöf viveu entre o dia 20 de Novembro de 1858 e o dia 16 de Março de 1940. Foi a primeira mulher a ganhar o Prémio Nobel de Literatura no ano de 1909; a primeira mulher convidada para a Real Academia Sueca, local onde só existiam homens desde 1786 e onde ocupou o lugar número 7; a primeira mulher a ter um doutoramento honoris causa na Universidade de Uppsala.

domingo, 27 de maio de 2018

Inês da Conceição do Carmo Borges - A ARQUITETURA SENHORIAL NA CONSTRUÇÃO DA PAISAGEM DURIENSE: LEGADO DO PATRIMÓNIO NOBRE EDIFICADO A PRESERVAR EM LAMEGO



Faculdade de Letras da Universidade do Porto. In Congresso Internacional "Grandes Problemáticas do Espaço Europeu", 26-05-2018.


XIII Jornadas Internacionais "Grandes Problemáticas do Espaço Europeu"

3 - Paisagem, Património e Desenvolvimento Territorial

Comunicação/Título:
A ARQUITETURA SENHORIAL NA CONSTRUÇÃO DA PAISAGEM DURIENSE: LEGADO DO PATRIMÓNIO NOBRE EDIFICADO A PRESERVAR EM LAMEGO, 
Comunicação de Inês da Conceição do Carmo Borges.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

NATÁLIA NUNES (1921-13-02-2018)

NATÁLIA NUNES (1921-2018)

Romancista, dramaturga, ensaísta e tradutora, Natália Nunes é uma antifascista da Resistência, autora de vasta obra literária, a quem a crítica assinala um “sentido do intimismo e do confessional, do mistério e da solidão, herdado em grande parte da geração presencista”, acrescentando-lhe a ”temática feminina e de intervenção social, já próxima do neo-realismo” (1). É uma mulher com espírito racionalista, metódico, (mas) a sua prosa está eivada de poesia.
Fez parte da última Direcção da Sociedade Portuguesa de Escritores (1965) e da Direcção da Associação Portuguesa de Escritores (1978-79). Numa entrevista ao jornal Expresso, em Junho de 1998, dizia «Não sou nem nunca fui política mas sempre defendi ideais sociais. Na minha vida privada, o tema político está sempre presente, com uma tão grande preocupação que chega à angústia».


1. Nasceu em Lisboa, a 18 de Novembro de 1921, mas passou parte da infância em Oliveira de Frades (Vale do Vouga) e morou em Coimbra, de 1950 a1956. É irmã do artista plástico António Alfredo, um destacado antifascista (2) e viúva do professor Rómulo de Carvalho (poeta António Gedeão) com quem casou (1945) e teve uma filha, a escritora Cristina Carvalho.
Fez os estudos liceais no Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho e foi na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa que se licenciou em Ciências Histórico-Filosóficas (1948). 
Depois de em 1956 ter tirado o curso de Bibliotecário-Arquivista na Universidade de Coimbra, trabalhou como Bibliotecária, durante alguns meses, nas Bibliotecas da Ajuda e Nacional, 1956-57; foi Conservadora do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, 1957-68, e Bibliotecária na Escola Superior de Belas-Artes, 1968-87.
Estreou-se literariamente em 1952 com a obra Horas Vivas: Memórias da Minha Infância. Neste seu primeiro livro, a escritora põe-nos perante as vivências de uma menina entre os 7 e os 10 anos; fala-nos da escola daqueles tempos na província, e reflecte o ambiente quase medieval, dessa altura na Beira Alta, onde Natália Nunes fez a maior parte da instrução primária (3). 
Colaborou em diversas publicações: jornais Diário Popular, Diário de Lisboa, Diário de Notícias, O Primeiro de Janeiro, JL; revistas Seara Nova e Vértice, por exemplo; e na rádio, com uma série de palestras sobre "Os símbolos dos partidos políticos". 
Entre as suas obras de ficção destacam-se os romances Autobiografia Duma Mulher Romântica e Assembleia de Mulheres. 
A sua produção ficcional revela-se como uma boa fonte para se conhecer certas realidades. A experiência de vida de Natália Nunes é levada para alguns dos seus livros, ajudando-nos a conhecer instituições (a escola, por exemplo) e a entender as relações pessoais e sociais de uma época. Em alguns dos livros a escritora reflecte um manifesto interesse pelo ensino, pela instituição escolar e pela sociedade, em geral. O Regresso ao Caos (1960), com vários episódios sobre o ensino, foi - segundo a autora - muito influenciado pela vida do irmão, António Alfredo, quando jovem. (4) 
No livro As Velhas Senhoras e outros contos (1992), a escritora abordou temas como a loucura [por exemplo, nos contos Ao menos um hipopótamo, Clastomina, Micolina, entre outros]. Chegou a pensar ser psicóloga, ainda fez um curso no Hospital de Santa Maria, na clínica psiquiátrica de mulheres, cujo director era o Prof. Barahona Fernandes (5).


2. Em 1977 recebeu o Prémio da Associação Portuguesa de Arquivistas e Documentalistas.
Em 2002, Natália Nunes entregou à Biblioteca Nacional o espólio de seu marido.

De uma entrevista dada pela escritora a Luís Souta (Instituto Politécnico de Setúbal), nesse mesmo ano, e publicada no Jornal A Página da Educação ONLINE com o título “Nas obras de cada escritor há experiência vivida”, retirámos estes excertos:
«Depois do 25 de Abril, os jornalistas e os críticos passaram a perguntar descaradamente aos escritores "Ouça lá, isto é autobiográfico?" Eu acho que isto é a transplantação do espírito de bisbilhotice de vizinha, para o jornalismo. Não há escritor que possa afirmar que nas suas obras não haja experiência vivida, mas não há só isso. O escritor, porque é imaginativo, ao viver já está a ficcionar e ao ficcionar já está a viver. Entra no chamado jogo dos possíveis: vemos vários caminhos, escolhe-se um deles que, depois, se preenche com pequenas coisas da vida quotidiana, a nossa ou a dos outros. A ficção é feita disso, da nossa vida, com as suas frustrações, os seus projectos, sonhos, desejos, êxitos e malogros. Os nossos e os dos outros, adivinhados ou sabidos.»
«Quanto às vivências infantis e juvenis ainda não estão completamente "esgotadas". Mas não sei até que ponto as poderei retomar porque o tempo vai passando e não sei quanto terei ainda de vida»
«Nós temos projectos que nunca se realizam, porque vêm outros que nos exigem mais ou porque a vida não deixa. A vida não nos deixa fazer muitas coisas.»
3. OBRA PUBLICADA
FICÇÃO
1955 - Autobiografia de uma Mulher Romântica, romance, (reeditado em 1966)|1957 -
A Mosca Verde e Outros Contos|1960 -
Regresso ao Caos, romance|1964 -
Assembleia de Mulheres, romance (reeditado em 1997)|1967 - O Caso de Zulmira L. , novela|1967 -
Ao Menos um Hipopótamo, conto (com desenho Lima de Freitas e introdução de José Saramago)|1970 -
A Nuvem. Estória de Amor|1973 -
As batalhas que nós perdemos|1985 -
Da Natureza das Coisas (contos)|1992 -
As Velhas Senhoras e Outros Contos|1996 -
Louca por Sapatos (conto incluído em Contuário Cem)|1997 - Vénus Turbulenta, romance||1970 -
Cabeça de Abóbora (Teatro).
Memórias e Viagens
1952 - Horas Vivas: Memórias da Minha Infância|1956 -
Uma portuguesa em Paris|1981 -
Memórias da Escola Antiga
ENSAIOS
1954 - Apontamentos sobre o pensamento ético de Dostoievski, in Vértice nº134|1955 -
A metafísica de Húmus de Raul Brandão, in Vértice nº146|1956 -
Da criação e organização de um instituto de Ciências Pedagógicas, in Vértice nº159|1958 -
Frei Pantaleão de Aveiro e os judeus, in Vértice nº179-179|1960 -
Uma colecção documental histórica de incomensurável valor, in Seara Nova|1974 -
As Batalhas que Nós Perdemos, Estudos sobre as obras de Augusto Abelaira, José Cardoso Pires e Raul Brandão|1976 -
Confrarias, Irmandades, Mordomias. Inventário e estudo da informação histórica contida em Livros de Registo Paroquial Existentes no Arquivo Nacional da Torre do Tombo|1997 -
A Ressurreição das Florestas, Estudos sobre a obra de ficção de Carlos Oliveira|2001 -
Carácter humanístico e filosófico da Poesia de António Gedeão, in Pedra Filosofal –

Rómulo de Carvalho / António Gedeão|2004 - 
Notas Introdutórias a Obra Completa de António Gedeão|2006 -

Apontamentos para um estudo da assinatura do poeta António Gedeão, in António é o meu nome
TRADUÇÕES
1960/61 - Dostoievsky, Obras Completas, vol. I, II e IV, Edit. Aguilar, Rio de Janeiro;|1960/61 -
L. Tolstoi, Obras Completas, vol. I e II, Edit. Aguilar, Rio de Janeiro;|1964 -
Konstantin Simonov, Não se Nasce Soldado, Ed. Arcádia;|1966 -

Elsa Triolet, Jamais, Portugália Ed.;|1967 - 
Violette Leduc, A Bastarda, Portugália Ed.;|1968 -

Balzac, Pequenas misérias da vida conjugal, Portugália Ed.;|1968 -
Roger Portal, Os Eslavos. Povos e Nações, Ed. Cosmos.
Notas:

(1) Dicionário de Literatura Portuguesa, Org. e Dir. de Álvaro Manuel Machado, Ed. Presença, 1996, Lisboa.
(2) António Alfredo era um artista de renome que, nas décadas de 50 e 60, teve grande projecção em Lisboa, pela capacidade de inovação e grande criatividade, quer na sua obra em decoração e arquitectura de interiores, quer em publicidade.
(3) «Comecei a escrever as Memórias da Minha Infância num impulso de registar coisas, e depois saíram umas memoriazinhas, incipientes, (…). E não me arrependo de ter escrito esse livro. Hoje fá-lo-ia mais completo. Os outros livros (romances, novelas e contos) são histórias que aconteceram ou que podiam ter acontecido. Acho que a ficção é um jogo de possíveis, mas a minha profissão não influenciou em nada a minha vocação de escritora. Os arquivistas, geralmente, não são historiadores. Mas se há no que escrevo um carácter histórico, isso é uma propensão natural». – Natália Nunes em entrevista à Página da Educação ONLINE.
(4) «Isso passa-se com todos os escritores. Há uma parte de nós que não é nossa, é a da sociedade em que vivemos, e que está inserida na literatura que fazemos. Nós vivemos numa época, somos influenciados por ela e isso reflecte-se na nossa obra.»

Biografia da autoria de Helena Pato, a partir de:


Retirado do grupo Antifascistas da Resistência (autoria Helena Pato)

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Sigur Ros - Svefn-G- Englar

Khatia Buniatishvili Un Violon sur le sable Royan 2017

Anabela de Campos Salgueiro e Inês da Conceição do Carmo Borges, co-autoras da obra: "Estrada da Luz. Obra Poética e Iconográfica de Branca de Gonta Colaço" na Revista Bica, n.º3 Inverno de 2018.



        Artigo intitulado "Estrada da Luz. Obra Poética e Iconográfica de Branca de Gonta Colaço", por João Gomes Esteves, Historiador e Investigador das Faces de Eva, Estudos sobre a Mulher, na Revista Bica, n.º3 Inverno de 2018, páginas 156-157. Sobre a obra Estrada da Luz. Obra Poética e Iconográfica de Branca de Gonta Colaço, de Anabela de Campos Salgueiro e Inês da Conceição do Carmo Borges, Editora Palimage, agosto de 2017.

Khatia and Gvantsa Buniatishvili: Libertango Improvisation